É um jardim claro, entre muros baixos,
de erva seca e de luz, que devagar coze
a sua terra. É uma luz que sugere o mar.
Respiras essa erva. Tocas os cabelos
e fazes brotar a recordação.
Vi tombar
muitos frutos doces na erva familiar,
com um baque. Assim te sobressaltas também
ao tremor do sangue. Moves a cabeça
como se em torno ocorresse um prodígio impalpável
e o prodígio és tu. Há um mesmo sabor
nos teus olhos e na cálida recordação.
Escutas.
As palavras que escutas tocam-te ao de leve.
Tens no rosto calmo um pensamento claro
que nos teus ombros imita a luz do mar.
Tens no rosto um silêncio que atinge o coração
opresso, e destila uma antiga pena
como o sumo dos frutos caídos nesse tempo.
Cesare Pavese, O Vício Absurdo,
sel. e trad. Rui Caeiro,
Lisboa: & etc, 1990
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