terça-feira, 31 de maio de 2016

FEIRA DO LIVRO DE LISBOA - 2016


Todos os livros da AVERNO e da ALAMBIQUE
estão disponíveis no pavilhão D20
[Livraria Letra Livre]



segunda-feira, 16 de maio de 2016

'Os limites do controlo' (6)




[Jim Jarmusch, Os limites do controlo, 2009]



 "[...]

Existe-se na arte. Existe-se com a obra de arte. Cada um a seu modo; e segundo o ritmo do mundo que para a obra de arte saberá transportar. Pertence-lhe uma decisão de sentidos que se joga no momento exacto em que "aparece" e em que, com ela, se estabelece confronto. De um modo mais próximo: avançamos para o "objecto" de arte e dele só "tiramos", como resultado momentaneamente final, aquilo que lhe atribuímos, o que nele vimos e o que sobre ele pensámos. Quase sempre, senão sempre, o que para essa obra canalizámos de desdobramento de nós próprios - seus visitantes -, em grau de conhecimento (e também de ignorância) e de uma escala muito ampla de sensibilidade.

[...]"


 João Miguel Fernandes Jorge, "Canovaccio", Telhado de Vidro n.º 3,
Lisboa: Averno, Novembro de 2004



[Antoni Tapiès, Gran Sábana, 1968]

quarta-feira, 11 de maio de 2016


[....]

O teu carro era veloz, tornava pequena
e sórdida a Vinte e Quatro de Julho.
Demasiado veloz, o teu carro, a notícia 
sem rasura que chegou de noite
ao silêncio dos corações disponíveis. 

Não faz mal. São coisas que acontecem
a "esses gajos da noite". Pois, sabemos muito
bem: a morte, essa certeza improvável. 
Bebemos, claro, e fingimos que o nome
dos mortos se apaga na euforia
baça com que os dias se sucedem.
Também temos, por enquanto, uma razão
precária e urgente para fingirmos e ficarmos.
O que é muito humano - e um pouco desprezível. 

Só nunca saberei o que me querias dizer
sobre Blanchot, l'entretien (in)fini. Não esperei
que regressasses do carro, com o livro anotado,
e o último copo parece-me agora 
uma despedida incompleta, um rasto de cinza
que tinge de mágoa o balcão a que me encosto. 

Deus, Miguel, é esse estafermo iletrado
a quem nunca dedicaste um verso. Fizeste bem.




Manuel de Freitas
in Sunny Bar, com sel. de Rui Pires Cabral, posfácio de Silvina Rodrigues Lopes, 
capa de Luís Henriques e arranjo gráfico de Pedro Santos, 
Lisboa, Alambique, 2015

'A poesia está na rua'






[Fotografias de Miguel de Carvalho]