quarta-feira, 22 de outubro de 2014

#3




Maria da Conceição Caleiro, Too Much,
com capa de Rui Pires Cabral e arranjo gráfico de Inês Mateus,
Lisboa: Alambique, 2014
[200 exemplares]

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

sábado, 20 de setembro de 2014

RETRATO

Uma demora lenta nas palavras
um calor bom na palma das mãos
uma maneira de gostar das pessoas e das coisas
sem tolher movimentos ou forçar as superfícies
beber aos golinhos o café a ferver
ou o whisky chocalhado com pedrinhas de gelo
viver viver roçando as coisas ao de leve
sem poupar o veludo das mãos e do corpo
sem regatear o amor à flor da pele
olhar em torno de si perdida ou esperar o verão
e saber de um saber obscuro que o calor
todo o calor é de mais dentro que vem


Rui Caeiro, Livro de Afectos
Lisboa, edição do autor, 1992

quarta-feira, 3 de setembro de 2014




Na Feira do Livro do Porto:
Isabel Nogueira e Paulo Furtado, A Kind of Blue,
Lisboa: Alambique, 2014

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

A kind of blue


*

... Foi quando tudo ficou coberto de neve que reparei que as portas e as janelas eram azuis.

*


Albert Camus, Cadernos II,
trad. António Quadros, Lisboa: Livros do Brasil, s/d

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

UMA HISTÓRIA DOS SONHOS

[...] 
Como se num palco escuro ou vazio, ou uma coisa e outra, um único foco de luz apontasse para um homem sozinho e desmunido de particulares atributos, ou só com um único atributo, o seu sonho. O seu sonho que é o que dele acabamos por saber e praticamente a única coisa que dele ficamos a saber. Como se o palco não fosse ocupado por um homem de carne e osso, rodeado das suas várias circunstâncias, mas pelo seu sonho apenas. Um sonho estranho, como quase todos os sonhos, mas de que valesse a pena relatar os possíveis detalhes. O palco até pode estar materialmente vazio, como se numa peça de Samuel Beckett, mas esse vazio é ilusório porque há um pano de fundo e esse pano de fundo tem um nome. Podemos chamar-lhe História. É, de resto, na História que se inscrevem os sonhos dos homens, que dela ficam a fazer parte integrante e ela ficam a ocupar um lugar menos que diminuto. Nem dará para uma nota de pé de página.
[...]


RUI CAEIRO
in Em Torno do Desejo de Prisão, a partir de um conto de Elizabeth Bishop, 
traduzido por Helder Moura Pereira, com um posfácio de Rui Caeiro 
e ilustrado por Mariana Gomes, Lisboa: Letra Livre, 2009

sexta-feira, 8 de agosto de 2014


«Tejido en carne viva», escribe Rui Caeiro en un aforismo con rotundidad de poética, «—único lugar donde verdaderamente da gusto escribir». Sus variaciones sobre el asunto del morir parecen, antes que escritas, conversadas entre amigos. El hilo con el que teje la lengua poética brota en fuentes coloquiales, pero recoge aguas de pensamiento y de sensibilidad en su cauce. La obsesión, siempre, es encontrar un punto de vista no usado desde el que pensar sobre lo que piense. Entre dos polos que atraigan ideas, Rui Caeiro huye siempre de los dos. Entre angustia y alegría, elige la salsa agridulce.



Ainda atacas
como pode atacar um amor já ido
lá de vez em quando ainda atacas
irrompes num súbito alarme
sacodes-me de alto a baixo
impiedosa
mente
sacodes
me
e devagar te afastas
como um sol a por
se


Rui Caeiro, Sobre a nossa morte bem muito obrigado,
Lisboa: Alambique, 2014

domingo, 3 de agosto de 2014

sábado, 2 de agosto de 2014

SENTAMO-NOS OCIOSAMENTE BÊBADOS E LOUCOS PARA EDITAR


Ideias de liberdade estão ligadas à bebida
O nosso ideal contém uma taberna
Onde um homem se pode sentar e conversar ou apenas pensar
Sem qualquer medo do dragão nocturno,
Ou então outra taberna onde o medo surge.
Não há letreiros com não se fia ou não há crédito
E abstraindo as ilimitadas cervejas
Sentamo-nos ociosamente bêbados e loucos para editar
Panfletos de um país realmente melhor onde um homem
Pode beber vinho mais fino, ah, um vinho por destilar,
Que intoxica subtilmente sem dor,
Tecendo a visão de uma estalagem inassimilável
Onde podemos beber eternamente,
Com a porta aberta, e o vento a soprar.


Malcolm Lowry (trad. José Agostinho Baptista)
in Telhados de Vidro n.º3,
Lisboa: Averno, Novembro de 2004

quarta-feira, 23 de julho de 2014





[...]

"I thought you'd never say hello" she said
"You look like the silent type"
Then she opened up a book of poems
And handed it to me
Written by an Italian poet
From the fifteenth century
And every one of them words rang true
And glowed like burning coal
Pouring off of every page
Like it was written in my soul from me to you
Tangled up in blue 

[...]

domingo, 20 de julho de 2014

VERÃO


É um jardim claro, entre muros baixos,
de erva seca e de luz, que devagar coze
a sua terra. É uma luz que sugere o mar.
Respiras essa erva. Tocas os cabelos
e  fazes brotar a recordação.

                                                               Vi tombar
muitos frutos doces na erva familiar,
com um baque. Assim te sobressaltas também
ao tremor do sangue. Moves a cabeça
como se em torno ocorresse um prodígio impalpável
e o prodígio és tu. Há um mesmo sabor
nos teus olhos e na cálida recordação.

                                                                     Escutas.
As palavras que escutas tocam-te ao de leve.
Tens no rosto calmo um pensamento claro
que nos teus ombros imita a luz do mar.
Tens no rosto um silêncio que atinge o coração
opresso, e destila uma antiga pena
como o sumo dos frutos caídos nesse tempo.


Cesare Pavese, O Vício Absurdo,
sel. e trad. Rui Caeiro,
Lisboa: & etc, 1990

domingo, 6 de julho de 2014

#2




Isabel Nogueira (texto e fotografias) e Paulo Furtado (música),
A Kind of Blue,
Lisboa: Alambique, 2014
[Tiragem de 200 exemplares]

Apresentação




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#1




Rui Caeiro, Sobre a nossa morte bem muito obrigado,
com capa de Luís Henriques e arranjo gráfico de Inês Mateus,
Lisboa: Alambique, 2014
[Tiragem de 300 exemplares]