Regressar a casa sozinho e noite dentro
quando o silêncio das árvores da rua se acentua
e os poemas que nunca hás-de fazer te atingem
com o fragor de telhas caídas de um telhado
mesmo em cima da tua cabeça - tanta fragilidade
E por fim entrar em casa, ordeiramente
A essa hora todo e qualquer remorso
é coisa de somenos, importante sim
para dormir, para brincar, só a morte
Ursinho de peluche no travesseiro
da cama - a tua morte
Rui Caeiro, Sobre a nossa morte bem muito obrigado,
com capa de Luís Henriques,
Lisboa: Alambique, 18 de Abril de 2014
URSOS
Um homem que foi atacado por um urso relata
não é das garras nem dos dentes que se recorda
mas apenas da prolongada macieza do seu pelo
Rui Caeiro, Deus e outros animais,
org. Delfim Lopes, desenhos de Bárbara Assis Pacheco
e posfácio de José Ángel Cilleruelo, Lisboa: Averno, 2015
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