quinta-feira, 20 de outubro de 2016
terça-feira, 18 de outubro de 2016
Pela manhã o gato estende-se
vagaroso nesse impreciso lugar
em que luz e sombra
se entretecem. Nas pedras
rondantes do que sempre chamámos
a nossa casa, esse sonho
de irmos por detrás das janelas
encarcerados nas agrestes
paredes do amor.
Todas as manhãs, enquanto
a escola me espera, o
gato é tão certo como os passos
que dele se desviam. Um mero
olhar, a melancolia
de depois te dizer já sem o mesmo encanto
a sua negra quietude, o silêncio
em que se move.
Estamos todos, eu tu e o gato,
neste estranho sossego
de a morte ser um dia destes,
entre luz e sombra.
vagaroso nesse impreciso lugar
em que luz e sombra
se entretecem. Nas pedras
rondantes do que sempre chamámos
a nossa casa, esse sonho
de irmos por detrás das janelas
encarcerados nas agrestes
paredes do amor.
Todas as manhãs, enquanto
a escola me espera, o
gato é tão certo como os passos
que dele se desviam. Um mero
olhar, a melancolia
de depois te dizer já sem o mesmo encanto
a sua negra quietude, o silêncio
em que se move.
Estamos todos, eu tu e o gato,
neste estranho sossego
de a morte ser um dia destes,
entre luz e sombra.
Manuel de Freitas, Todos contentes e eu também,
Porto: Campo das Letras, 2000
[Inês Dias, Outubro de 2010]
quarta-feira, 12 de outubro de 2016
Não te lembres de mim, ao nevoeiro
que encerra os barcos negros no abrigo,
para que o olhar da gárgula arguta
roube às goteiras um golo de luz.
Mas a vida secou. A árvore de ouro
de que viste a sombra ferida no muro,
na parede da casa à meia-noite,
de súbito enlaçada ao candeeiro,
morreu. E tu partiste sob a chuva
de outro mundo, sem saberes que fazer
da carruagem com olhos de lobo,
da porta onde o teu corpo se gravou.
Voltarás ao caminho devorado,
das trevas iludido o céu diurno.
que encerra os barcos negros no abrigo,
para que o olhar da gárgula arguta
roube às goteiras um golo de luz.
Mas a vida secou. A árvore de ouro
de que viste a sombra ferida no muro,
na parede da casa à meia-noite,
de súbito enlaçada ao candeeiro,
morreu. E tu partiste sob a chuva
de outro mundo, sem saberes que fazer
da carruagem com olhos de lobo,
da porta onde o teu corpo se gravou.
Voltarás ao caminho devorado,
das trevas iludido o céu diurno.
LUIS MANUEL GASPAR
in A Sombra do Farol (1995)
Subscrever:
Mensagens (Atom)