vagaroso nesse impreciso lugar
em que luz e sombra
se entretecem. Nas pedras
rondantes do que sempre chamámos
a nossa casa, esse sonho
de irmos por detrás das janelas
encarcerados nas agrestes
paredes do amor.
Todas as manhãs, enquanto
a escola me espera, o
gato é tão certo como os passos
que dele se desviam. Um mero
olhar, a melancolia
de depois te dizer já sem o mesmo encanto
a sua negra quietude, o silêncio
em que se move.
Estamos todos, eu tu e o gato,
neste estranho sossego
de a morte ser um dia destes,
entre luz e sombra.
Manuel de Freitas, Todos contentes e eu também,
Porto: Campo das Letras, 2000
[Inês Dias, Outubro de 2010]
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