quinta-feira, 17 de novembro de 2016

(Po)ética

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Vivi, pois, durante uma época, ainda que muito brevemente, numa casa cujas janelas me inclinavam para as traseiras de um poeta: Raul de Carvalho. Cantava; ouvia-se-lo cantarolar sobre quintais e saguões, à luz de ouro no Outono lisboeta. E ia pondo a sua roupa lavada no estendal, na alegria doce de quem vive, não sozinho: na companhia de versos em louvor dos nadas do dia-a-dia. E o seu vidro saía cortado à medida da sua casa. Algo de que nunca eu me cansei, repetindo, repetindo, repetindo iguais gestos, decerto, na minha própria construção. Ler, não chega; há que ver e ouvir pela abertura do coração, comovidamente.
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Paulo da Costa Domingos, Narrativa,
com carta-prefácio e capa de Vitor Silva Tavares, 
Lisboa, Alambique, 26 de Maio de 2016 

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