quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

VALE DA MADRUGADA

Para Inês Dias


Os dias passam
e fica o silêncio das casas desocupadas
uma gota d'orvalho suspensa no vazio
nunca constrói uma ponte sobre o nada
algumas coisas nunca acontecem

raízes subaéreas
deste mundo muito estreito
lembram marés acima dos dias
famintas de luz
nunca roubando a gota
à flor vizinha.


Miguel de Carvalho, Neste estabelecimento não há lugares sentados,
 Lisboa, Alambique, 2016



[Inês Dias, 'Pelos caminhos da manhã', 2011]

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